Sozinho no deserto
A maratona contava com 80 participantes e as coisas estavam a correr bem nos primeiros três dias. Prosperi estava perto do grupo da frente, em quarto lugar, a apreciar a beleza do deserto e em boas condições físicas. Tudo mudou no quarto dia, quando os participantes da ultramaratona foram apanhados por uma tempestade de areia. De acordo com as regras da corrida, num caso destes, todos os atletas devem parar e esperar que o tempo passe, mas na prática nem sempre é possível fazê-lo. A situação de Prosperi foi complicada pelo facto de estar sozinho quando a tempestade começou.
O vento soprava com uma força assustadora. Fui literalmente engolido por uma parede de areia amarela. Fiquei cego e mal conseguia respirar. A areia voava-me para a cara – pareciam agulhas na minha cara. Era a primeira vez que experimentava a força de uma tempestade de areia. Virei-me de costas para o vento e amarrei um lenço à volta da cabeça para proteger a cara. Não estava desorientado e tinha de me mexer para não ficar coberto de areia. Acabei por encontrar um abrigo onde decidi esperar que a tempestade passasse
Mauro Prosperi
A tempestade durou cerca de oito horas. Quando acabou, já estava escuro e Prosperi instalou-se para passar a noite. O italiano tinha a certeza de que ao amanhecer continuaria o seu movimento, encontraria outros concorrentes e chegaria à meta, mas estes planos não estavam destinados a concretizar-se. O atleta tinha consigo uma bússola e um mapa, mas nas condições do deserto, onde não existem quaisquer pontos de referência, estes revelaram-se inúteis. “Depois de correr durante cerca de quatro horas, subi ao topo de uma duna, de onde não conseguia ver nada para além de areia. Foi então que percebi que as coisas estavam más”, recorda Prosperi numa entrevista à BBC.